Casais homoafetivos encontram na reprodução assistida a esperança da parentalidade

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Em meio a um cenário de avanços sociais e conquistas dos direitos LGBTQIA+, casais homoafetivos ao redor do mundo estão encontrando na reprodução assistida (RA) uma oportunidade para realizar o sonho de terem um bebê e construírem suas famílias. Por meio de tratamentos como a inseminação artificial e a fertilização in vitro (FIV), é possível superar os desafios biológicos da concepção e criar um ambiente propício para a gestação.

O direito de igualdade ao acesso às técnicas de RA, sem distinção de orientação sexual ou identidade de gênero, é garantido pela Resolução 2.168/2017, do Conselho Federal de Medicina (CFM). No entanto, muitos casais ainda enfrentam a barreira da desinformação. Foi o do empresário W.N. e do engenheiro C.S.. Após muita pesquisa, eles descobriram que poderiam realizar o sonho de um filho biológico através de uma barriga de substituição – barriga solidária.

De acordo com a lei brasileira, a prática de aluguel temporário do útero – barriga de aluguel –, quando há um retorno financeiro, é proibida. Segundo a regra, a prática deve ser feita de forma voluntária e realizada por parentes de até quarto grau. Para o casal, a ajuda veio da prima de W.N., que deram luz a gêmeos em 2022.

Segundo o empresário, a FIV foi a melhor opção. “Esse sonho para o C. é bem mais antigo. Ele já havia tentado adotar algumas vezes, mas ou ocorria em uma época em que não conseguia se estabelecer financeiramente, ou surgia oportunidade de adotar crianças com muitos irmãos, o que fugia da capacidade dele naquele momento. E a FIV surgiu como uma possibilidade de termos um filho biológico, foi quando começamos a correr atrás disso”, disse W.

O médico ginecologista e membro da SBRA, Condesmar Marcondes Filho, explica que desde a inclusão da garantia de igualdade de acesso às técnicas de RA para casais LGBTQIA+, a procura tem crescido. “Nos últimos anos, vem aumentando exponencialmente a procura de casais homoafetivos que querem engravidar. É preciso compreender que em cada caso o tratamento é diferente. No caso de um casal homoafetivo formado por homens é preciso ser explicado sobre a necessidade de uma barriga solidária. Já no caso de um casal com duas mulheres eu preciso falar do banco de sêmen”, afirma.

Ainda que com maior diversidade de tratamentos, a reprodução assistida tem desempenhado um papel fundamental na jornada para casais femininos. O ginecologista obstetra e membro da SBRA, Vinicius Medina, fala da necessidade da doação de sêmen nesses casos. “A grande questão está no uso de sêmen, e isso pode ser feito através de doação ou bancos de especializados. Além disso, temos a opção de que somente uma das partes realize os procedimentos, ou seja, aquela que vai produzir os óvulos é aquela que vai engravidar. Também temos a opção de uma ser estimulada, captar os óvulos, formar os embriões e transferir para o útero da parceira. Desta forma, uma pode fazer parte do tratamento ou as duas.” afirma o especialista.

A FIV foi o tratamento escolhido pelas servidoras públicas M.F. e R.F. “A gente já vinha pesquisando sobre reprodução assistida. Fomos nos inteirando das diferenças entre o processo de inseminação e fertilização e optamos pela FIV porque era a técnica com maior probabilidade de dar certo”, disse M.

Vinicius Medina explica que outro fator que deve ser levado em consideração é o quadro clínico de cada paciente. “Algo que é analisado é a idade do casal. Geralmente é indicado que a mais nova faça o tratamento, pois esta tem maior chance de engravidar. Mas também levamos em conta o histórico médico para avaliar qual das duas mulheres terá maior chance de sucesso no tratamento. Mas, na maioria dos casos, o casal já chega com algo definido, sabendo de quem vai utilizar os óvulos e quem vai utilizar o útero para engravidar”, ressalta.

Para além dos tratamentos, o sonho de gerar uma nova vida é um ato de amor e uma conquista pessoal para esses casais. Para R.F., fica a esperança de que sua história quebre a barreira do preconceito e conceda um futuro melhor para o filho. “A falta de representatividade faz com que a gente ache que determinadas vivências não são para nós e isso não é verdade. Esperamos que o futuro de nosso filho seja repleto de amor, acolhida e que ele esteja rodeado de pessoas que o abracem cotidianamente. Somente assim acreditamos ser possível que ele desenvolva o melhor de suas potencialidades enquanto ser humano” finaliza a servidora.

A conquista vai além do amor para W.N. “É incrível poder ver que nossa história está inspirando outros pais a conseguir ter um filho. Esse é um ato civil de muito amor, de muita representatividade. Se a gente conseguir plantar uma sementinha no coração de cada pessoa que está em nossa volta, uma semente sem preconceito, uma semente de amor, de respeito ao próximo, aí teremos certeza de estarmos construindo um mundo em que essas crianças serão muito amadas e que elas possam viver da melhor maneira que eles quiserem”, conclui o engenheiro.

Fonte: Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida